sexta-feira, dezembro 28, 2007

Valores.

O mundo parou, girou, voltou, a minha volta. Sumi, estou de volta. O Natal passou, e eu passei. Passei os dias sozinho, dentro de mim. No silêncio dos olhos escuros, da barba por fazer, do café frio em cima da mesa, do cigarro que queimava sozinho no cinzeiro. Minha crise de abstinência, dela. Se chama saudade, solidão. Ela me veio em uma manhã de sol, tão bonita no seu próprio simples. Ela foi embora, não sem antes me ferir, me consumir, me consumar, me consumei, de volta.

O destino é uma moeda de dez centavos.
A solidão é uma moeda de cinco centavos.
A saudade é uma moeda de vinte e cinco centavos.

A solidão diz que quando tem vergonha de algo ou de si, tem uma vontade extrema de correr, para nunca mais voltar.
A saudade diz que quando se sente só, tem uma vontade de sumir, sozinha.
O destino foi embora, por não existir, por não ser, só.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Aos domingos.

Sempre tinha missa, enquanto o padre falava seus sermões em latim dentro de mim crescia a excitação infantil para me ver livre daquela torrente de palavras. E ao olhar para os lados sempre me via acompanhado de uma pequena legião de garotos que de anjos só tinham o aumentativo. Acabada a missa era uma explosão de euforia, saiamos correndo pela igreja sendo repreendidos pelos outros, principalmente por aquelas beatas, e assim iamos nós, com os bolsos carregados de bolinhas de gude. O campeonato ia começar.

Outro dia passei em frente a velha igreja, agora tão velha e acabada quanto eu, mas o meu eu menino ainda tem uma grande parte lá.

terça-feira, julho 31, 2007

Na Cidade.

O tempo foi passando, as cores foram mudando e as pessoas indo embora. Eu não, eu fiquei. Sozinho. Nunca deixei de sorrir. Ainda lembro dos fogos tão variados que enfeitavam o céu nas noites de São João. As crianças brincando na rua, e as mães olhando atentas da calçada.
O silêncio que ficava nas ruas aos domingos é agora o mesmo silêncio que permanece a semana toda.
Há muito desaprendi a falar pois não tinha com quem. E o único som que se atreve a quebrar o silêncio mortal que envolve a cidade é o do meu velho piano em noite de lua cheia.
Talvez você possa me ouvir.

sexta-feira, julho 27, 2007

Sobre o Morador.

Um homem que tem seus anseios, um morador solitário de uma cidade vazia.
Correspondido pela única coisa que realmente possui, o silêncio.
Silêncio tal que pode ser comparado ao silêncio das estrelas, ou quem sabe das tumbas dos faraós.
Solitário, porém alegre, segue na sua cidade a espalhar, o preto no branco e o branco no preto.
Na cidade vazia, que só mora um alguém.